Por: Edivan Costa
18/07/2025
A flor de defunto pode até parecer uma simples planta ornamental, mas sua presença carrega significados profundos, espirituais e até econômicos ao redor do mundo.
Conhecida por suas cores vibrantes e aroma marcante, ela ultrapassa a estética para se transformar em símbolo de honra, renascimento, proteção e até prosperidade.
O que para uns é apenas uma flor usada em funerais, para outros representa uma ponte entre mundos, um amuleto de sorte ou um poderoso item ritualístico.
Em muitos lugares, sua importância vai muito além do que os olhos veem — e é isso que vamos revelar a seguir.
A popular flor de defunto é o nome dado, principalmente no Brasil, ao cravo-de-defunto ou ao tagetes (Tagetes erecta), também conhecido como cempasúchil no México. Suas flores amarelas e alaranjadas são facilmente reconhecíveis, especialmente durante celebrações como o Dia dos Mortos.
Trata-se de uma planta de ciclo anual, muito utilizada em jardins, cemitérios e festividades religiosas. Apesar de sua associação com o luto, ela está presente em cerimônias que exaltam a vida e a memória dos entes queridos.
Essa flor possui também propriedades repelentes naturais e é amplamente utilizada na agricultura orgânica e em práticas de permacultura. Ou seja, além do simbolismo, ela tem valor prático para quem cultiva a terra.
No México, a flor de defunto é sagrada. Chamado de cempasúchil, esse tipo de tagetes é usado em grande escala durante o Día de los Muertos, celebrado nos dias 1 e 2 de novembro. Acredita-se que seu aroma forte guia os espíritos dos falecidos de volta às suas casas.
As famílias constroem altares decorados com cempasúchil, velas e objetos pessoais dos entes queridos. O caminho de pétalas, conhecido como “tapete de flor”, é uma trilha simbólica de retorno. É um ritual de alegria, conexão e ancestralidade.
Além disso, essa flor é tão importante para a cultura mexicana que chega a ser cultivada exclusivamente para abastecer o mercado do Dia dos Mortos. Seu cultivo, inclusive, movimenta a economia local em estados como Puebla e Oaxaca.
Na Índia, a flor de defunto — especialmente o tagetes laranja — é usada em cerimônias religiosas, casamentos, oferendas e festivais como Diwali. Ali, ela não tem ligação com a morte, mas sim com a pureza, a luz e a proteção espiritual.
Os colares feitos com essas flores são oferecidos aos deuses em templos e também pendurados nas portas das casas como forma de afastar más energias. O uso da flor na Índia é tão comum quanto o uso de velas no Ocidente.
Por causa de seu aroma intenso, também é utilizada na fabricação de óleos essenciais e incensos medicinais. O seu papel transcende o físico, representando limpeza espiritual e bem-aventurança.
No Brasil, o uso da flor de defunto está mais associado aos rituais de velórios e homenagens póstumas. É comum ver essa flor em cemitérios, especialmente durante o Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro.
Entretanto, em muitas regiões do interior, essa flor também é utilizada em simpatias e rituais populares de proteção contra inveja e mau-olhado. Alguns acreditam que a flor atua como um escudo espiritual nos lares.
Recentemente, a flor de defunto vem ganhando espaço na agricultura orgânica como uma alternativa natural ao uso de agrotóxicos, o que amplia sua presença fora do campo religioso e simbólico.
No Nepal, durante o festival Tihar, que também acontece em novembro, a flor de defunto é usada para homenagear os cães. Isso mesmo! Os animais são considerados guardiões espirituais e recebem guirlandas de tagetes como sinal de respeito e carinho.
As flores são colocadas em volta do pescoço dos cães para simbolizar a pureza, a gratidão e a luz divina que os cães representam. É um costume que emociona e reforça a ligação espiritual entre humanos e animais.
Esse gesto reforça o aspecto da flor como elemento de reverência, amor e proteção — não só aos mortos, mas também aos vivos.
Na Guatemala, o Dia dos Mortos também é celebrado com a presença da flor de defunto. No entanto, o foco está tanto nos que partiram quanto nos que permanecem. A flor é símbolo de resistência cultural e identidade indígena.
Durante a celebração, há festivais com pipas gigantes (barriletes), onde a flor de defunto é usada para decorar e homenagear os que já se foram. Ao mesmo tempo, ela representa a continuidade da vida e a força das raízes ancestrais.
A flor é um elo entre o passado e o presente, entre o espiritual e o terrestre. Em aldeias indígenas, seu uso é também medicinal e faz parte da farmacopeia tradicional.
Nos Estados Unidos, o uso da flor de defunto vem crescendo principalmente por influência da cultura mexicana. Com a disseminação do Dia de los Muertos, muitos americanos estão adotando a flor em altares e eventos culturais.
Nos estados com grande população latina, como Califórnia e Texas, a flor já é comum em mercados e cemitérios. Além disso, virou tema de estampas, tatuagens e decoração durante o mês de outubro e novembro.
A flor representa conexão, respeito às raízes e uma nova forma de celebrar a morte de maneira mais humanizada. Sua estética vibrante também atrai os jovens, que veem nela uma mistura de beleza, mistério e ancestralidade.
Nas Filipinas, a flor de defunto é usada de forma semelhante ao Brasil. Durante o Dia de Todos os Santos (1 de novembro), cemitérios são decorados com flores frescas, entre elas a tagetes, como forma de prestar homenagens aos falecidos.
As famílias se reúnem nos túmulos, fazem refeições em conjunto e rezam. A flor representa respeito, saudade e tradição. Seu uso é silencioso, sem grandes festas, mas carregado de significado emocional.
Além disso, há comunidades que utilizam a planta para fins medicinais, sobretudo como pomada natural para aliviar dores e inflamações.
Apesar de suas raízes estarem fincadas em rituais ancestrais, a flor de defunto continua atual. Ela atravessa fronteiras, religiões e culturas, sempre carregando consigo significados poderosos e ressignificações.
Em um mundo cada vez mais acelerado, o resgate de símbolos como essa flor nos reconecta à espiritualidade, à natureza e ao ciclo da vida. Seja nos cemitérios, nas plantações ou nos festivais, ela segue viva — e cada vez mais presente.
Seja para guiar almas, atrair proteção ou simplesmente embelezar um jardim, a flor de defunto ensina que até o que parece ter fim pode florescer novamente.
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